A pandemia avançando de norte a sul e a população continua não usando corretamente a máscara, apesar de infectologistas reforçarem sua eficácia. Percebo mais preocupação com o designer dos tecidos, que deveriam estar cobrindo nariz e a boca, do que seu uso adequado. Com frequência, são vistas embrulhando o queixo, as mãos ou enfiadas nos bolsos. O mais incrível é que essas pessoas te olham como se tu fosse a errada. Sinais evidentes da falta de preocupação com o próximo.
O descaso já vem de cima, de onde deveriam chover demonstrações de respeito. Essa semana, por exemplo, um dos coronéis do Ministério da Saúde, em reunião com gestores e secretários estaduais de saúde, orienta que comprem remédio com sobrepreço contra o coronavírus. Detalhe: o medicamento estaria 600% (seiscentos por cento!) acima do valor. Mas não era para o governo regular isso? Somado a esses fatos, denúncias de fraudes nas compras de ventiladores pulmonares no Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará viraram rotina nos noticiários. E ainda há quem diga que, graças a Deus, a corrupção acabou, ufa!
Os que juram que o país está limpo de qualquer sinal de imoralidade, mesmo não sendo da área da saúde, "ajudam" estimulando o uso de medicamentos (contraindicados pela Organização Mundial da Saúde) para tratamento prévio à Covid. Quando víamos uma população inteira tornar-se técnica de futebol e dar palpites, podia até ser engraçado, mas agora não é um jogo. São vidas. Entretanto, o que estamos assistindo é a banalização da morte.
Como diria o saudoso Renato, que país é este? Quase como um futurista, Russo já previa que nas favelas, no Senado, era sujeira para todo lado. Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação. Que país é esse?
Ao desviarmos as notícias pandemia, nos deparamos com o Queiróz indo para casa e, sua mulher, liberada para cuidá-lo. Nossa! Todos os presos conseguem esse privilégio?
A toda hora chegam avisos que o preço da água subiu e corremos o risco de privatização do setor. Caminhoneiros e motoristas reclamam que os pedágios aumentaram nas rodovias. O gás está pela hora da morte. A luz, não querendo ficar para trás, acompanha essa escalada.
O racismo, escancarado, mostra sua face mais abominável. Assistimos, horrorizados o Floyd morrer sufocado pelo peso de um policial. Aqui, uma mulher negra conseguiu escapar desse destino, mas deve estar agradecida a quem filmou toda a cena, pois possivelmente seria "provado" que o ato aconteceu em legítima defesa.
O desmatamento já foi, inclusive, admitido pelo general que está responsável pela conservação da Amazônia e pelo comandante da economia, apesar de meses atrás o diretor do Inpe ter sido demitido por ter denunciado esta situação. Agora parece que enxergaram, porque algumas empresas, defensoras do meio ambiente, pararam de investir no Brasil.
Dados de violência contra a mulher aumentam durante a pandemia, pelo simples fato de permanecerem mais tempo com seus "companheiros" no mesmo ambiente. Ricos e famosos retiram, tranquilamente, os R$ 600 da caixa, enquanto quem realmente precisa, não consegue. Tendo em vista, em um passado recente, as críticas ao programa Bolsa Família, imagino o que estariam comentando se estes fatos estivessem acontecendo em outro governo.
Não bastasse todos os absurdos acima, um estudante de medicina veterinária, suspeito de tráfico de animais, é picado por uma cobra naja, dentro do seu apartamento em Brasília. Os peritos encontraram vestígios de maus-tratos em outras serpentes criadas pelo rapaz. Parece mesmo que a sensação de impunidade nesse país tomou proporções venenosas. Ao menos uma naja e uma ema andaram demonstrando sua revolta por aí. É a natureza beliscando a insensatez! Naturalmente, talvez haja esperança.